sábado, 23 de agosto de 2008

No coração da cidade



Florianópolis me surpreende a cada dia que passa. Mas nada te deixa mais baixo astral do que a violência crescente na cidade, especialmente quando ela passa de raspão por ti. Ontem, pouco antes das 13 horas, horário de almoço para boa parte das trabalhadoras da capital, um assassinato aconteceu em plena Praça XV de Novembro. Dois meninos-soldados do narcotráfico, de 15 e 17 anos, mataram à queima-roupa um rapaz de 24. A vítima cambaleou até a frente da Farmácia Panvel e terminou de morrer ao lado de um papa-entulho, aqueles contêineres enormes onde são depositados restos de material de construção. O motivo do assassinato é o de sempre: acerto de contas do tráfico de drogas. Centenas de populares presenciaram a cena, no coração da cidade. A polícia retirou o cadáver, mas ficou a poça de sangue. Minutos depois, os bombeiros limparam as marcas da morte. E a cidade manezinha terminou a digestão do almoço e voltou ao trabalho.

Catch the bomb

Organizações pacifistas, como a Anistia Internacional, Oxfam e Iansa (International Action Network on Small Arms), lançaram a campanha internacional Control Arms, que pretende pressionar os governos a ratificarem o Tratado Internacional de Controle do Comércio de Armas. O Brasil já assinou o documento. O tratado tem importante impacto local, como a redução do número das armas de fogo e de munições que provocam a morte de tantos jovens em nossas comunidades. Segundo as ongs, existe uma arma para cada dez pessoas no planeta. Para sensibilizar o público, as organizações lançaram o jogo virtual “Catch the Bomb” , onde você pode ajudar a recolher as bombas, granadas e minas ao lugar que elas merecem estar: no lixo. No Brasil, integram a campanha o Viva Rio e o Instituto Sou da Paz, de São Paulo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hoje

Tristeza pelos atentados na Argélia e pelo acidente com o avião na Espanha. É por essa e por outras que tenho pressa de viver intensamente.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Talento Márlio

Xeretando blogs alheios em busca de novidades, encontrei uma ligação para o blog do primeiro ator de teatro que conheci, o Márlio da Silva, do querídissimo Grupo A de Teatro, do qual eu era fã de carteirinha na minha época de adolescência. Eu não perdia uma apresentação do grupo em Florianópolis, em especial da minha peça preferida, "Vivo Numa Ilha" que, por sinal, ajudou a revelar um outro talento, Ney Piacentini. Márlio mora em Amsterdã (Holanda) desde 1992 e tem um blog, O Corolário das Jararacas. Além de bom ator e escrever bem, ele continua um gato, apesar de o blog mostrar somente o perfil dele.

P.S.: Minutos depois, numa pesquisa mais atenta, descobri que Márlio esteve na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no mês de abril, participando da 1a Semana de Leitura Dramática. Eu não estava no país na época, mas com certeza teria ido lá para dizer que sou sua eterna fã. Na matéria da Agência de Comunicação tem foto e tudo. Realmente, ele continua um charme.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pensata

"For most of history, Anonymous was a woman"
Virginia Woolf

domingo, 17 de agosto de 2008

Entre gatas e gatos



Saudade de um bichano ronronando por perto.
Este é Gigi, meu gatinho companheiro de últimos meses de Costa Rica. Foi um presente de meus amigos e vizinhos Naita Saechao e Federico Chialvo. Na verdade, pensei que fosse uma gata até o dia em que a levei ao veterinário para fazer a cirurgia de castração. Como o controle de natalidade deve ser preocupação de ambos os sexos, Gigi não teve escolha. O nome, em homenagem a uma cantora maravilhosa da Etiópia, acabou ficando o mesmo. Na foto acima, Gigi dorme o soninho da tarde e, embaixo, enrolado numa manta do povo masai, do Quênia.

O retorno necessário



Depois de meses, retorno ao blog. Retomo a língua portuguesa, licenciada durante um ano por causa de meus estudos de mestrado em uma universidade internacional, e o tema que mais aprecio e que pertence à minha vida, ao meu pensamento, à minha política: as fronteiras. E, principalmente, a ausência delas. O assunto me remete ao diretor de cinema que inspirou o título deste blog, Tony Gatlif (é de sua autoria "Exílios", no qual a personagem principal diz se sentir estrangeira em sua própria terra...).
Assisti ao último filme do cineasta, "Transylvania", às vésperas de minha partida da Costa Rica, em julho. De nome Michel Dahamani, Gatlif é nascido na Argélia, tem nacionalidade francesa e em suas veias corre sangue cigano, herdado dos pais, também de origem espanhola. E foram as fortes raízes que o levaram a filmar na bonita e mística região da Transilvânia, na Romênia. Para aquelas terras geladas e distantes segue Zingarina (interpretada pela atriz italiana Asia Argento) à procura do namorado que a deixou na França ou "en busca del hombre que ama, en el corazón de Rumania", como anuncia o cartaz no Arte Cine Lindora, em San José, capital costarriquenha.
A dor do amor perdido sangra ainda mais o coração de Zingarina quando ela reencontra o rapaz, Milan, e leva um fora sem qualquer piedade. É o início de uma tormenta psicológica que leva a mulher à beira da loucura. Ela vaga sem destino pela Transilvânia, mas cruza com personagens interessantíssimos, entre eles o charmoso cigano Tchangalo (o ator turco Birol Ünel), responsável por uma reviravolta em sua vida. Eles se apaixonam e têm um filhinho juntos. Por incorporar as vestimentas e o estilo de vida ciganos, Zingarina sofre na pele o preconceito contra o povo rom. Uma das preciosidades deste filme é o cruzamento de fronteiras em questões como nacionalidades, religiões e idiomas. Em alguns momentos é praticamente impossível identificar a língua em questão - se inglês, italiano, romeno, italiano, alemão ou tantas das diferentes variações lingüísticas que existem em um continente tão multiétnico como a Europa.
Volto a Gatlif e à sua forma de interpretar as fronteiras deste mundo, após uma visita recente a São Paulo, talvez o exemplo mais multicultural de cidade que tenhamos no Brasil. Ali, conheci o casal Alessandra e Mabrouk. Ela, paulistana, e ele, argelino da região da Cabília, mais precisamente de Bejaïa, capital da "petite" ou "basse Kabylie". No território da "haute Kabylie" está a cidade de Tizi-Ouzou, célebre foco de resistência popular nos anos 1950 e 1960 contra a sangrenta ocupação da Argélia pela França. Até hoje, a Cabília, com um dos menores índices de desenvolvimento econômico do país, luta pelo reconhecimento de sua cultura e de sua língua - o Tamazigh, popularmente conhecida como bérbere pelos ocidentais - pelo Estado argelino.
E a cultura da Cabília não é pouca coisa, não. Da região vêm grandes músicos, como Idir, nascido em 1949 em Aït Lahcène e radicado na França. Idir vive as contradições de ter nascido em um país e ter adotado - de forma voluntária ou não - um outro para viver. Em um de seus discos, Identités (1999), ele se questiona "porquoi cette impression étrange que mon pays s´éloigne chaque jour un peu plus et me renvoie une image de plus en plus mythique, alors que j´ai toujours dans la tête une valise prête, mais hésitante?".
Quem nunca viveu as contradições de se sentir diferente e dividido ao confrontar-se com diversos comportamentos, línguas, países e culturas? É por isso que o tema das fronteiras - sejam elas físicas ou sentimentais - fazem parte de todas as situações que eu vivo. São presentes e permanentes, principais e fundamentais no meu cotidiano. Necessárias para compreender-se os dilemas da sociedade, como o racismo, o sexismo, a homofobia e outras discriminações que perseguem os que não detém o poder político. Só a indiferença pode esconder estas contradições e a sensibilidade e o respeito às diversidades, torná-las visíveis.

P.S.: O encontro com Alessandra e Mabrouk aconteceu numa esquina movimentada na zona oeste da capital paulistana, junto com o meu querido Orlando, degustando um bom prato de macaxeira, carne de sol e bolinhos de abóbora com carne seca. Tanamirt (obrigado, em Tamazigh) pour votre amitié!